sábado, 22 de novembro de 2008

Chamas da vida: "Não estou na fase 'fada loura'", diz Lucinha Lins

Lucinha Lins fala sobre sua carreira


Desde que estreou na teledramaturgia, Lucinha Lins sempre ouviu que não conseguiria interpretar uma grande vilã na TV. Primeiro, por sua imagem angelical. E, além disso, por sua delicadeza e pelo jeito tranqüilo de falar e se comportar.

Por isso mesmo, interpretar a piromaníaca Vilma, em Chamas da Vida, tem um sabor diferente para a atriz. "Posso mostrar para todos que sou capaz de construir tipos diferentes dos que fiz em novelas", avalia. E o resultado tem agradado Lucinha dentro e fora dos estúdios.

Além dos elogios que ouve dos colegas, as reações nas ruas também têm surpreendido a atriz. "Outro dia levei um empurrão de leve de uma pessoa na rua. Nunca tinha vivido essas situações", diverte-se.

Além do comportamento da personagem, muitos param Lucinha nas ruas para comentar sobre o novo visual, com cabelos curtos e ruivos. E, segundo a atriz, alguns se surpreendem quando ficam sabendo que a sugestão foi dela. "Achei que seria bom para mudar de vez o conceito que as pessoas fazem de mim. Eu não mexia no visual porque não pediam isso", entrega.

Você dizia que ser loura e ter olhos claros fazia com que as pessoas não imaginassem você na pele de uma vilã. Foi uma surpresa o convite para interpretar a Vilma em Chamas da Vida?
Uma surpresa muito boa. Posso dizer que, neste momento, não estou na fase fada loura. Não sei se é por ter os cabelos, a pele e os olhos claros ou se é pelo jeito mais delicado. O fato é que ouvi várias pessoas me dizerem que não me imaginavam fazendo uma grande vilã em novela. Acho muito engraçado alguém dizer isso para uma atriz. Para mim, não existem personagens boas ou más. Existem personagens, que independentemente das características que recebam, têm de ser trabalhadas. É assim que encaro a minha profissão.

Mas você sugeriu mudar o visual. Sentiu necessidade de uma transformação maior para o papel de vilã?
Quis mudar o visual para tirar essa idéia da cabeça das pessoas. Diminuí o cabelo, esse glamour que mantive ao longo de tantos anos de carreira. Dar um basta de uma vez por todas e mostrar que sou capaz de fazer outros personagens. Tanto que assim que o (diretor) Edgard Miranda me falou do papel, sugeri essa mudança. A primeira reação dele foi de espanto, me perguntando se eu teria coragem. Quando me encontrou, eu já estava com o cabelo curto e vermelho. Cortaram até demais, mas como a estréia da novela atrasou, deu tempo dele crescer um pouco e acertar.

Como são as reações nas ruas?
No início as pessoas comentavam muito sobre o cabelo. A maior parte elogiava a mudança. Mas o que acho mais divertido e que é uma novidade para mim é a reação em relação às maldades que a personagem faz. Outro dia eu estava na rua e levei um pequeno empurrão. De leve. Na hora não entendi, mas olhei e percebi que a pessoa me empurrou com cara de quem estava me dizendo "nossa, você está nojenta, hein!?". Acho que isso funciona como um termômetro. E me estimula, porque, pelo que estou percebendo, as pessoas estão gostando da minha construção para a Vilma.

É mais difícil construir uma vilã?
Não acho que seja mais fácil ou mais difícil fazer uma vilã. Qualquer personagem dá trabalho. Em uns, você rala mais. Em outros, menos. Mas, no início, o esforço é mais ou menos o mesmo. Como agora estou interpretando uma mulher com sentimentos mais duros, acaba sendo cansativo. Se comparar com Vidas Opostas, por exemplo, que também era na Record, dá para perceber. Naquela época eu gravava 25, 30 cenas por dia. Hoje eu gravo 15, 18, às vezes 20. E saio esgotada, lambendo o chão. Não é que seja mais difícil, mas é com certeza mais cansativo. Tanto física quanto mentalmente. Por isso mesmo, quebro a cabeça tentando, quando posso, humanizar a Vilma.

De que forma?
Na relação dela com os filhos, por exemplo. Acho importante que a vilã também tenha seu lado bom. E esse lado se reflete nas cenas da Vilma com os três filhos. Ela não deixe de ser chata, preconceituosa, cruel, mas a todo o momento mostra que existe amor neste núcleo. Outro ponto importante nisso é a relação dela com o Miguel, personagem do Floriano Peixoto. Existe uma paixão entre os dois muito forte e eu tento carregar um pouco nessas seqüências. Em muitas delas exploro um jeito mais frágil de interpretação, que a aproxima um pouco mais de uma mulher apaixonada.

Aos 55 anos, essa é sua segunda novela seguida com cenas sensuais. Como você lida com isso?
Não vou dizer que é tudo lindo, que me sinto muito bem, porque não é assim. Claro que é sempre constrangedor dizer 'eu te amo', beijar e tocar uma outra pessoa. Ainda mais quando a relação dos personagens precisa demonstrar um sentimento intenso. Mas a grande verdade é que a maior dificuldade é na hora em que a gente lê, quando as cenas ainda estão no papel. Logo que você entra no estúdio e fica pronta para gravar, tudo flui. Quando mudaram o horário da novela das 21 horas para 22, ficou claro que, apesar de não mudarem a história, teríamos de trabalhar intenções diferentes nas cenas. São adultos assistindo, acho normal que carreguem mais em alguns momentos. Nessas horas a experiência ajuda.

Você estreou como atriz há quase 30 anos, mas só agora assinou o primeiro contrato longo da carreira. Você chegou a se sentir desvalorizada na Globo?
Não. Fiz coisas maravilhosas na Globo. Aliás, já trabalhei na Globo, na Record, no SBT, na Band, fui de todas. E acredito que tenha marcado pontos nas quatro. Recebi bons convites, ganhei papéis excelentes e isso me deu base para sentir a segurança de hoje. E a Globo me ofereceu contrato longo uma época, mas eu não aceitava. Depois não rolaram outros convites. Acho que eu fiquei mesmo com uma imagem de quem não queria compromisso sério. E fiz bem. Pude tocar outros projetos no teatro sem nunca ter ficado sem trabalho.

O que a fez assinar dessa vez então?
Assim que a Record tocou no assunto, já no meio de Vidas Opostas, confesso que pensei na estabilidade. Não sou mais uma garotinha que não quer criar raízes em nenhum lado. E estou com planos de voltar a me dedicar à música, que foi algo que abandonei durante um tempo e não quero mais deixar de lado. A segurança financeira que a Record dá me deixa mais livre para correr atrás de alguma coisa na carreira musical.

Chamas da Vida - Record - De segunda a sábado, às 22 h.

Início musical

Lucinha Lins sempre sonhou ser cantora, mas precisou deixar a carreira musical de lado para se dedicar à dramaturgia. A atriz, que foi casada com o músico Ivan Lins, participou de shows do cantor como vocalista e percussionista e cantou em alguns festivais de música brasileira. Chegou a vencer, em 1982, o MPB Shell, com a música Purpurina. "Achei que ia ser cantora porque a música sempre fez parte da minha vida. E, modéstia à parte, sei que canto bem", gaba-se.

Nem mesmo as aparições constantes da então cantora Lucinha Lins na década de 80 foram suficientes para segurá-la na música. Gravou um CD do espetáculo Sempre, Sempre Mais, fez o filme Os Saltimbancos Trapalhões e apresentou na extinta Manchete o infantil Lupu Limpim Clapla Topo. Mas depois de um convite de Walter Avancini para interpretar uma das protagonistas da minissérie Rabo de Saia, a profissão de atriz passou a ser mais interessante. Tanto que emplacou, em seguida, a doce Mocinha em Roque Santeiro. "Fiquei quase 20 anos sem cantar direito. Mas repensei essa atitude e agora não paro mais. Esse lado cantora nunca vai desaparecer de mim", garante.

A estabilidade do contrato com a Record deixa Lucinha ainda mais motivada para tocar sua carreira musical. A atriz até gravou o CD Canção Brasileira, pela gravadora Biscoito Fino, em 2002, com 17 composições de Sueli Costa. Mas depois disso, poucos foram os avanços. Em 2009, quando se comemorará o centenário de Carmen Miranda, Lucinha planeja uma turnê do show Na Batucada da Vida, com canções famosas da Pequena Notável. "Estou dependendo de fechar o patrocínio. Espero conseguir em breve", torce.

Dedicação exclusiva

Desde que encerrou Vidas Opostas, Lucinha Lins está mais reticente na hora de se comprometer com trabalhos diferentes no mesmo período. Na época em que gravava a novela, a atriz estava em turnê com o espetáculo Intimidade Indecente, ao lado de Otávio Augusto. Agora, ela só aceita subir ao palco enquanto grava a novela se for para uma pequena participação ou como convidada especial. De preferência, cantando. "Tudo o que mais quero agora é reativar esse meu lado 'cantora'. Não descarto a possibilidade de gravar, em breve, uma música para uma das trilhas sonoras das novelas da Record", comenta, com aparente empolgação.

Trajetória televisiva

#Plantão de Polícia (Globo, 1979) - Gisela.
#Rabo-de-Saia (Globo, 1984) - Santinha.
#Roque Santeiro (Globo, 1985) - Mocinha
#O Salvador da Pátria (Globo, 1989) - Ângela.
#O Dono do Mundo (Globo, 1991) - Vanda.
#Mundo da Lua (TV Cultura, 1991) - Tia Roberta.
#Despedida de Solteiro (Globo, 1992) - Marta.
#Fera Ferida (Globo, 1993) - Laurinda Mota da Costa.
#A Viagem (Globo, 1994) - Estela.
#As Pupilas do Senhor Reitor (SBT, 1995) - Magali.
#Sangue do Meu Sangue (SBT, 1995) - Helena Rezende.
#Perdidos de Amor (Band, 1996) - Lali.
#Malhação (Globo, 1997) - Bárbara.
#Corpo Dourado (Globo, 1998) - Hilda.
#Tiro & Queda (Record, 1999) - Isabel.
#Estrela-Guia (Globo, 2001) - Lucrécia Espíndola.
#Chocolate com Pimenta (Globo, 2004) - Elvira.
#Esmeralda (SBT, 2004) - Branca.
#Vidas Opostas (Record, 2006) - Isis Campobello.
#Chamas da Vida (Record, 2008) - Vilma.

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